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Um trauma sem cura

É inacreditável, mas o Brasil tem mais de 45 mil pessoas desaparecidas. Não é um fenômeno nosso, pessoas desaparecem no mundo inteiro. Algumas são encontradas, outras somem sem deixar rastro.

Diariamente, no Brasil, somem 25 pessoas. É um número alto e as causas vão de assassinatos a acidentes, passando por sequestro e outras menos comuns, entre elas, a pessoa querer sumir. Trocar de vida, mudar de nome, tirar novos documentos, começar outra vez, simplesmente seguir em frente, sem avisar ninguém, sem compromisso com o passado que por uma razão ou outra, ela decide deixar para trás.

Imagine o desespero dos familiares que de repente ficam sem saber o que aconteceu com o parente. Imagine uma mãe que vê o filho sair de casa de manhã para ir para a escola e que de tarde não retorna. Ou da filha que vê a rotina do pai se desfazer no passeio diário do qual, certa manhã, ele não volta. Ele não foi longe, a praça fica a menos de 500 metros da casa, mas ele desaparece sem deixar sinal, sem deixar bilhete, sem contar que estava partindo para não voltar.

Primeiro, a busca entre os vizinhos. Depois, os hospitais, o Instituto Médico Legal e a polícia para registrar o Boletim de Ocorrência. Passa a primeira semana, o primeiro mês, muitas vezes o primeiro ano e nada. Nenhuma notícia, nenhum sinal, nada. Apenas o silêncio e a angústia da falta de respostas. Está vivo? Está morto? A morte é melhor que a angústia da incerteza. Coloca fim ao desespero. Permite fechar a página, acertar as contas.

 25 pessoas desaparecem diariamente no país e boa parte delas não reaparece, nem viva, nem morta. São centenas de pessoas que, daí pra frente, ficam sem saber o que aconteceu ou o que podem fazer. Nada é mais triste do que a falta de notícias, do que não saber.     

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.