Calor Abissínio Plus
Eu já escrevi que minha avó quando o calor atingia um grau quase insuportável, dizia: “está fazendo um calor africano”. Quando o estágio seguinte entrava em cena, ela mudava a frase para: “está fazendo um calor abissínio”. Não sei quais os parâmetros que ela empregava para criar sua tabela de temperatura, mas fazia sentido, pelo menos para explicar o que ela sentia em termos de calor. Muito quente: africano; mais quente ainda: abissínio. E todo mundo compreendia.
Só que a realidade foi além e São Paulo tem vivido dias em que a definição de “calor abissínio” é insuficiente para definir o quadro. O calor está mais quente. Então minha solução para solucionar o problema é criar escalas para o “calor abissínio”. Calor abissínio plus. Calor abissínio Bronze. Calor abissínio Prata. Calor abissínio Gold. Calor abissínio Platina e assim sucessivamente, à medida que o calor aumentar.
Porque, como dizia um antigo líder sindical, “pode ser que não esteja hajando, mas que já hajou, hajou e que harará, harará”.
Esta é a única certeza: “que harará, harará”. Só não se sabe quando.
Ainda é um projeto embrionário. Estou na formatação do primeiro modelo para depois fazer os testes de campo iniciais e confirmar se as premissas utilizadas se sustentam. Em caso positivo, serão necessários testes de stress para verificar a resiliência da proposição e, depois, a discussão com cientistas afeitos ao tema para criar a formatação definitiva e a escala pós abissínia necessária para definir os estágios do calor absurdo que toma o planeta de assalto e São Paulo de forma particular.
O grande problema é a limitação material da escala. Depois de platina, temos diamante e podemos criar nióbio e outras parecidas, mas é uma escala limitada, finita, e o calor tem se mostrado insaciável em sua sanha expansionista. Enfim, é um começo. Quem sobreviver verá.
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