A princesa das quaresmeiras
[Crônica de 1 de fevereiro de 2008]
A Rua Olavo Freire é uma rua pequena que lembra os grandes perfumes e os grandes venenos, eles também vêm em vidros pequenos. Encravada na divisa do Pacaembu, liga a Cardoso de Almeida à Avenida Sumaré, com tudo de bom e de ruim que uma ligação destas pode ter. E o ruim é que no caso tem mais de ruim que de bom.
Não por culpa dela, coitada, simples rua de bairro, promovida a passagem estratégica, sem nenhuma preparação maior, sem qualquer curso para prepará-la para as novas funções, nada.
A coisa foi indo num crescendo óbvio, mas não identificado pela CET, o que também é óbvio e que só poderia ter o final que teve: a Rua Olavo Freire hoje é uma das mães do caos na cidade.
Quem sabe para compensar um stress que ela não gostaria de ter causado, quem sabe para melhorar o humor de quem passa por ela, vindo ou indo, a Rua Olavo Freira decidiu ter quase na esquina uma das quaresmeiras mais belas da cidade.
É árvore para mil talheres. Deslumbrante em sua florada azul arroxeada, cortando o céu e tapando o muro feio do cemitério.
São Paulo tem quaresmeiras de todos os tamanhos e cores. Elas foram plantadas por todos os lados, sem economia de muda, de alto a baixo de nossa enorme área urbana. Como sempre acontece, umas são mais bonitas, outras mais simpáticas e algumas pelo lugar em que estão plantadas, chamam mais a atenção.
Chora mais quem pode menos. É por isso que a quaresmeira da Rua Olavo Freire nunca derrama uma lágrima. Ela pode muito e do alto sua beleza, sabe disso.
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