João Cabral Porto Seguro
João Cabral Porto Seguro poderia ser um dos onze milhões de cidadãos que moram em São Paulo. Poderia ser qualquer um, do mais rico ao cidadão em situação de rua. Do que bebe champagne francesa ao que fuma crack. Do que anda de carro importado ao que puxa seu riquixá, batalhando o pão de cada dia nas ruas da cidade.
Poderia ser do bem e poderia ser do mal; poderia repartir o almoço com os pobres de cada dia e poderia roubar o SUS, tanto faz se milhares de pessoas ficariam sem atendimento.
João Cabral Porto Seguro é um nome sem CPF, sem R.G., sem carteira de habilitação. É um nome que participa desta crônica para mostrar as enormes diferenças entre as pessoas que vivem em São Paulo. Para a chuva de verão ou a estiagem de inverno, para o cano furado ou o poste caído. Para a motocicleta que causa um acidente ou para a motocicleta que é acidentada.
Para ele, a vida corre no templo onde Cristo é ressuscitado e de novo crucificado e enterrado para ressurgir em toda glória, no terceiro dia depois do fim do carnaval.
A vida corre nos estádios de futebol, onde os deuses da bola trocam a arte pela grana e acabam decepcionando os torcedores que, entre secos e molhados, pagam seus salários mirabolantes e que eles não fazem muito por merecer.
João Cabral Porto Seguro ama e é amado, ou não ama e é amado, ou ama e não é amado, tanto faz. Tem três filhos ou não tem três filhos. A estatística do IBGE não vai ficar melhor nem pior por causa dele.
João Cabral Porto Seguro tem medo de assalto e de violência, mas tem quem diga que ele é o assassino do contraparente do padre morto muito tempo atrás. Seja como for, ele é ele e a vida pega pesado.
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