A rua Aspicuelta
[Crônica de 20 de novembro de 2000]
A rua Aspicuelta é uma rua comum, na Vila Madalena, que homenageia um jesuíta que veio com o padre Manuel da Nóbrega, no começo da história de São Paulo, ajudar a fundar o colégio.
É uma rua com o asfalto precário e com os semáforos – que até pouco tempo ela não tinha – sem qualquer sincronização, o que faz dela uma rua como milhares de outras da cidade: com o asfalto precário e os semáforos sem sincronização.
Mas ela é uma rua simpática, imensamente simpática, e isso faz da rua Aspicuelta uma rua diferente, num bairro diferente.
A Vila Madalena é um bairro com muita personalidade. Com suas casinhas típicas de uma classe média que não existe mais, classe média que foi um marco na cidade e era composta por funcionários públicos, costureiras, alfaiates e outros profissionais autônomos, o bairro sempre teve um ar de cidade do interior, que foi sendo perdido ao longo dos anos, especialmente dos últimos, quando se transformou num dos pontos dos restaurantes e da vida noturna da Capital.
E a rua Aspicuelta é uma das ruas mais simpáticas do bairro. Aliás, continua sendo, mesmo não sendo mais a rua de 20 anos atrás, praticamente sem trânsito e pouco conhecida de quem não conhecia o pedaço.
Nessa época do ano a rua Aspicuelta fica além de simpática, particularmente bonita. Arborizada com flamboyants, que nesses dias de meio de primavera explodem o vermelho de suas flores, a rua está deslumbrante, se vingando das ruas arborizadas com ipês e quaresmeiras, que já tiveram seus dias de glória e que por conta deles fizeram pouco da rua Aspicuelta.
Dá gosto passar por ela, mesmo com os sinais recém-instalados pela CET funcionando exatamente ao contrário, ou seja no seu padrão normal, com o da frente fechando assim que o que está te segurando abre.
Os flamboyants da rua Aspicuelta são tão bonitos, que fazem você rir da incompetência que te rodeia.
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