Dezembro
Diz a lenda que agosto é mês de cachorro louco. Pode ser que fosse, hoje não é mais. Com as vacinas e tratamentos atuais, imagino que a hidrofobia tenha caído para patamares razoáveis.
O grande nó do ano é o mês de dezembro, pelo menos em São Paulo. A energia que deveria ser boa e pacífica, explode num frenesi que parece comedio de peixe, com os menores sendo devorados pelos maiores, no meio da água borbulhando, com manchas vermelhas fotografando a mortandade.
Em dezembro, milhões de pessoas mudam de comportamento, o que faz, automaticamente, que outros milhões que não têm nada com isso mudem também. O resultado é uma cidade alucinada, com gente sem paciência, gente apressada, gente histérica, gente cometendo todas a barbaridades possíveis, que fazem com que estacionar fechando a rua seja infração leve. A eletricidade se espalha por todas as partes, de todas as formas. Atinge vivos, mortos e feridos, aumentado o número de mortos e feridos, na luta ensandecida por um sanduíche, um vestido, uma camiseta ou simplesmente ocupar espaço, mostrar a cara, desfilar em carro aberto, podendo levar um tiro ou ser assaltado.
É verdade, nesta época os assaltos aumentam. É mais fácil, as pessoas saem de casa para fazer compras abastecidas, em dinheiro ou cartões. Como bandido que dorme de touca acaba preso, eles saem na frente e se preparam para a festa, cada vez mais violenta.
No mês do nascimento do Cristo, a paz e a boa vontade perderam muito do seu espaço. Os corredores dos shoppings dão uma noção do quadro, mas a realidade explode em toda sua violência nas ruas, onde carros, motos, bicicletas e pedestres se atiram de ponta cabeça e os ônibus e caminhões com a paciência dos mais fortes esperam a sua vez.
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