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A árvore cansada

[Crônica de 15 de dezembro de 2009]

Tem gente que acha que as árvores nãos cansam. Que elas aceitam passivamente viverem com as raízes enterradas lhes dando o suporte para ficar em pé, vendo a vida passar, com passarinhos cantando nos galhos e parasitas grudadas no tronco.

Não é assim. As árvores são como nós. Elas também se cansam. Se cansam da estupidez do mundo, da falta de generosidade, da vida atribulada na cidade grande, da maldade humana.

E as árvores envelhecem. Como nós, depois de um certo tempo previsto em seu código de DNA, as árvores ficam velhas, atingem o limite da vida, enfraquecem e morrem.

Eu não sei dizer quando ou com o isso acontece. Mas com certeza não há uma regra exata. Cada árvore é uma árvore e suas condições de vida são diferentes das outras, o que as faz únicas, com ritmo e toada própria.

Que o diga a grande tipuana que depois das chuvas da semana passada, se cansou de ficar eternamente ereta, com os longos galhos estendidos, e decidiu descansar, encostando o tronco enorme no carro do meu sócio Armando Char. 

Foi um gesto quase carinhoso. A imensa árvore foi descendo o tronco, lentamente, até encostar na lataria do carro, quando soltou o peso com tudo, convencida que tinha encontrado o apoio perfeito.

O problema é que um carro, por melhor que seja, é só um carro e não foi feito para servir de muleta para as grandes tipuanas cansadas da vida.

O resultado foi o carro, lentamente, ir amassando sufocado pelo peso enorme jogado sobre ele, até se transformar em sucata.
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.