O ataque dos flamboyants
[Crônica de 6 de janeiro de 2004]
Durante muitos anos eles estiveram por aí, mas não se mostravam, viviam discretamente, quem sabe com medo de levarem tiro, ou pior ainda, serem arrancados de suas calçadas e jogados sabe Deus em que depósito de lenha.
Os flamboyants de São Paulo levaram muito tempo para decidirem mudar de postura e só nos últimos anos começaram mostrar que também sabem se vestir para festa e que suas roupas não devem nada para nenhuma outra planta, árvore ou arbusto.
Donos de um vermelho intenso, mas delicadamente claro, eles ainda por cima usam as folhas para criarem um contraste deslumbrante que me faz voltar no tempo e lembrar quando chegava na fazenda nas férias de verão e os flamboyants estavam completamente tomados de flores, enfeitando a estrada da entrada e o caminho para a cocheira.
Esse verão eles estão se superando e sua florada se iguala às floradas mais bonitas de todas, incluídas as quaresmeiras, os ipês e as paineiras. É verdade que não são muitos e por isso é mais difícil encontrá-los e comparar com as outras árvores que enfeitam São Paulo. Quem sabe a razão deles serem pouco é que são árvores de madeira mole, que quebram fácil e têm vida curta.
Numa cidade cheia de casas, muros e automóveis plantas com essas características não podem fazer muito sucesso. Afinal, são um risco constante para quem está perto ou embaixo.
Mas é pena que seja assim, porque os flamboyants estão entre as árvores bonitas do mundo e faz bem para os olhos os verem, imponentes, com suas roupas de festa, alegrando o pedaço.
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