As igrejas de bairro
[Crônica de 10 de janeiro de 2001]
É evidente que todas as igrejas de uma cidade ficam em seus bairros. Nem poderia ser diferente, na medida que as igrejas devem ficar o mais próximo possível de seus fiéis, a quem devem amparar nos momentos de angústia ou dor e a quem devem abrir as portas da alma, nos momentos de se falar como criador.
Assim, dizer que as igrejas de bairro não são, em sua imensa maioria, belas é falar bobagem. A própria catedral da Sé, imponente, na beira de sua praça, está num bairro, como estão no mesmo bairro as igrejas de Santo Antonio, São Bento e São Francisco. Como está logo ao lado a igreja dos Enforcados e no Paissandu a igreja do Rosário.
Mas existe um tipo de igreja, meio sem linha definida, que pode ser chamada de igreja de bairro, ou de igreja de cidade do interior, sem fugir à ideia básica, que é a de definir uma igreja mais ou menos padrão, que está longe de ter a beleza ou o charme de suas irmãs famosas, e que, por isso mesmo, passa mais ou menos desapercebida, escondida num largo pequeno, invariavelmente encoberta pelos prédios e painéis em volta, que praticamente a apagam do cenário, ainda que sendo ela a razão de ser do largo.
São templos quase sempre pintados de cinza, ou acinzentados pelo tempo, com uma torre só e uma enorme mistura de padrões arquitetônicos completamente diferentes, que a fazem não ser bela, mesmo podendo ser simpática.
E aí, quem sabe mora o seu sucesso: para falar com Deus é mais importante um local simpático do que um lugar muito belo.
A beleza humana normalmente oprime. Deixa quem a contempla se sentindo pequeno, quando não insignificante, diante da obra de outro homem.
Como falar com Deus dentro de um lugar imponente e majestático? As igrejas de bairro sabem disso, por isso estão quase sempre cheias. Elas são um retrato exato de seus fiéis.
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