O fim de uma instituição
[Crônica de 6 de outubro de 2003]
Pode parecer inacreditável, mas o colégio de São Bento vai fechar. Uma das escolas mais importantes e mais antigas da cidade, o colégio dos beneditinos, por onde passaram alguns dos maiores nomes de São Paulo, vai encerrar mais de um século de serviços para a cidade e para o país.
A causa é a queda constante o número de alunos ao longo dos últimos anos. O resultado é uma cidade mais pobre e uma nação menos preparada.
Localizado no coração do centro velho, no lugar que Tibiriçá ergueu sua taba, depois da mudança da vila para as imediações do colégio dos jesuítas, o colégio de São Bento, ou melhor, a ordem dos beneditinos está pagando o preço da mobilidade impressionante da cidade de São Paulo.
Estrategicamente, poucos locais foram escolhidos com mais cuidado do que o terreno do mosteiro, que desde 1598 está plantado numa península, no fim da rua da Boa Vista, na continuação do rumo do colégio dos jesuítas.
E foi este o seu pecado: São Paulo, desde antes da chegada dos frades, já se movia de um lado para o outro do planalto, numa busca incessante por alguma coisa que até hoje ela procura, sem saber exatamente o que é.
Se por 400 anos os beneditinos tiveram sorte, porque os paulistas se moviam para além dos horizontes da vila, no século 20 ela mudou, com a volta para a cidade, mas com a mesma inquietação, que a fez começar andar, até chegar nas distâncias atuais, afungentando os moradores do centro velho e deixando o colégio sem alunos.
É pena e é triste. A imagem do grande colégio vazio é melancólica como uma sede de fazenda abandonada.
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