Vão aumentar o verde
[Crônica de 16 de maio de 2005]
A notícia é boa. Vão aumentar em muito a área verde de São Paulo. Começando pelas marginais, onde o Projeto Pomar é um sucesso acima de administrações e credos políticos, passando por parques e praças que receberão mais árvores, a cidade, nos próximos anos, deve ficar mais alegre, cheia de pássaros e com uma condição de vida melhor.
São Paulo precisa do verde, desesperadamente. Apesar de ter floradas deslumbrantes, algumas áreas da cidade são absolutamente cinzas, sem qualquer folha balançando, sem um mísero galho para servir de poleiro para os pássaros, sem uma sombra boa para minimizar o calor infernal dos meios-dias de verão.
Aumentar o verde é um ato de amor, de compaixão com o próximo, de lealdade com a maior mancha urbana abaixo do equador no mundo. É preciso bater de frente na tristeza sem futuro do cinza se espalhando pelas ruas, pelos muros, nos corações das pessoas com medo de outras pessoas, da violência que faz ter medo das outras pessoas, e até da polícia que deveria estar aí para espantar o medo, mas não espanta, pelo contrário, aumenta.
Aumentar o verde é aumentar a expectativa de vida, o bom humor, a alegria de andar pela cidade. De descobrir a vida escorrendo feito seiva para além das folhas balançando no vento, como colírio para os olhos se abrindo, para as mãos estendidas, deixando cair dentro as pétalas murchas das floradas que passam do tempo.
O verde é sangue escorrendo nas veias das ruas, nas artérias das avenidas, na esperança que se veste de verde para combinar com as novas árvores aumentando a vontade de que aqui, um dia, seja um lugar tranquilo para se morar.
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