As goiabeiras prometem
[Crônica de 19 de fevereiro de 2014]
A maioria da população de São Paulo nunca viu uma goiabeira e muita gente que viu não sabe que viu. Coisas da vida moderna, cada vez mais urbana, em todos os lugares do mundo.
Na cidade as pessoas imaginam que tudo é fabricado. Que tem fábrica de frango, de ovo, de boi, de bife, de porco. Que as frutas nascem em latas ou caixas que ficam penduradas nas árvores, como passarinho no final da tarde.
É quase assim. Porque na cidade também tem muita vida que passa desapercebida, muita coisa que acontece na frente de todo mundo e pouca gente se dá conta que está acontecendo.
Não tem o que fazer, vai ficar cada vez pior, ou sei lá se é pior, vai ficar cada vez mais assim. Porque é assim que o mundo anda. Cada momento é único. Não tem volta, nem dá bis. Pode acontecer outro parecido, mas não é o mesmo.
Agora é o tempo da vida urbana. O campo ficou pra fora, nas letras de música que já foram caipiras, evoluíram para sertanejas e hoje são um misto de country com bossa nova, canção de protesto dos anos 1960 e o mais que inventarem para garantir 15 minutos de fama para o cantor.
É por isso que essa crônica tem que ser muito cuidadosa. Descobri que as goiabeiras estão se aprontando para surpreender a turma.
É melhor elas não saberem que a turma não está nem aí. Que a turma não é mais turma, é galera, mas tudo bem. Com jeito todos ficam contentes. As goiabeiras, porque virão com carga de peso e a galera, porque não vai saber o que são aqueles frutos, que, aliás, não a interessam mesmo.
No mais, eu fico feliz. Entre secos e molhados, estou comendo goiaba no pé, exatamente como fiz no ano passado.
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