E cai água
[Crônica de 11 de fevereiro de 2008]
É verdade, nós estamos nos meses que chove. É a regra do mundo e o Brasil, por conta dela, até que não se dá tão mal assim. Entre os países abençoados com grandes quantidades de água, estamos entre os primeiros.
O problema é que excesso de chuva atrapalha. E nós não temos como fazer a divisão igualitária da queda de água do céu. Por conta disso, aqui chove muito, lá chove pouco e não aleatoriedade no fenômeno. Todo ano, grosso modo é a mesma coisa.
As variações existem, mas só para comprovar a boa regra. Sem elas a monotonia seria infinita e dar um jeito no país bem mais fácil. Não há como a ilusão para nos fazer o que não deveria ser feito.
Não há ano que os nordestinos não esperem pela chuva, acendendo velas, fazendo promessa, olhando o céu e esperando. E a chuva, volta e meia, não vem. Não cai em cima da terra madrasta onde ele nasceu. Cai na cidade grande, pondo abaixo a favela onde ele mora, esperando a chuva que não cai no sertão.
Verão após verão, as chuvas de verão batem forte. Custam caro, derrubam, matam, inundam. Sempre foi assim, até quando em algum ano a água falha.
No ano seguinte ela recupera o tempo perdido, matando mais, destruindo mais, inundando mais, auxiliada pela ilusão de que daqui pra frente tudo vai ser diferente. Não vai.
Os casebres caindo, os barracos cheios de lama e os móveis estragados boiando na inundação são as marcas registradas de uma tragédia anunciada. Uma tragédia que só poderia ser evitada se na ponta fizessem o que deve ser feito, mesmo não dando voto.
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