A festa é uma festa

[Crônica de 2 de março de 2009]

Carnaval. Hora de sair do armário, de viver as ilusões, de colocar o bloco na rua e só voltar na Quarta-Feira de Cinzas, torto, mas feliz, com a sensação do dever cumprido e uma dor de cabeça que não há remédio que conserte.

Quatro noites imperdíveis, até para quem não gosta de samba. Não tem problema, tem rumba, xaxado frevo, axé, punk, new age, ou qualquer outra new para não deixar você ficar parado, tenha lá o gosto que tiver.

De sexta a quarta é o reinado de Momo. Não existe pecado do lado debaixo do Equador. Então, vamos lá, uma fugidinha não é pecado e se fosse, estaria redimido. É carnaval, Deus não fica bravo. Se ficasse, não permitia a festa. Soltava os cachorros ou os arcanjos e quero ver quem é que pode com eles.

Isso, saia, largue tudo e mais alguma coisa. Não se amofine, não perca a chance – cavalo arreado não passa duas vezes na nossa frente. A hora é agora. Compete a você fazê-la plena, consistente, para não ser esquecida nem no carnaval do ano que vem.

Aproveite com tudo. Solte a franga, se vista de pirata ou jardineira, mas não perca a festa. Corra pela rua, pule muros, vare portas e janelas, fuja pelo elevador, vá de taxi, mas toque em frente.

Os quatro dias são dias contados, depois, não tem mais. Depois tem a volta doída pra rotina nossa de cada dia. Para o marasmo, para a vergonha, para o medo do gesto quente que assusta, num bom dia dito dentro de um elevador.

Que importa se ainda é cedo ou já pode ser muito tarde? Atire-se sem olhar por lado. Acredite na sorte, na possibilidade da loteria acumulada, no amor da sua vida. Acredite e dance.  E não seja você.
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