Luta insana
[Crônica de 5 de novembro de 2009]
O Centro Velho é das regiões que me comovem, dentro da cidade. Não sei se porque comecei minha vida adulta lá, indo diariamente, ou quase, para a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, o fato é que aquele pedaço de cidade mexe comigo de forma muito mais intensa que outros espaços, atualmente, mais ricos e mais belos.
Eu gosto de ver a luta dura pela sobrevivência diária, de uma série de estabelecimentos antigos e novos. São heróis paulistanos, gente que não tem medo de se arriscar, em negócios os mais variados, numa região que já foi, caiu, e tenta voltar.
Região que tem uma arquitetura rica em estilos sem qualquer compromisso, variando de velhas casas assobradadas a edifícios mais ou menos modernos, dando de quebra pérolas como o Teatro Municipal e o Tribuna de Justiça, para não falar na Catedral Metropolitana, com suas linhas únicas e fora de tempo, tão a cara de São Paulo.
Existe vontade de recuperar o pedaço. Para isso a prefeitura e várias secretárias do governo do estado se mudaram para lá, ocupando prédios condenados a decadência e os recuperando, para uso bem mais nobre.
Entre os heróis da luta diária, merecem destaque algumas marcas antigas, instaladas em endereços tradicionais, de onde se recusam a sair, ano após ano, na certeza de que o tempo das vacas magras vai passar.
Joalheria Montecristo e Restaurante Itamarati, no Largo do Ouvidor. Casa Godinho, na Libero Badaró. Guanabara na esquina da São João com o Anhangabaú. Casa Colombo e City Meias, na Praça do Patriarca. Casa Califórnia e Malas Boa Viagem na São Bento. Etc.
Todas dividem espaço com comércios mais novos, mas, também, dispostos a ficarem por lá, valorizando o espaço onde a cidade nasceu.
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