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A véspera

[Crônica de 20 de abril de 1999]

Hoje há 500 anos, a frota portuguesa encontrava-se quase que em terra, faltando poucas horas para o grito de “Terra a Vista” justificar a volta mais larga ordenada por Pedro Álvares Cabral.

Afastando-se da costa para oeste, mais do que o normal, era evidente, e os portugueses sabiam disto, que ele chegaria à costa brasileira, em posição altamente favorável para tomar aguada e prosseguir em direção ao cabo da Boa Esperança, para contornar a África e seguir para Calicute, onde deveria consolidar a presença portuguesa, fazendo guerra aos muçulmanos e criando alianças com os potentados locais.

Por conta disto e não do descobrimento do Brasil, o almirante deixara Lisboa à frente da maior frota que até então se aventurara ao largo do oceano Atlântico. 

Com 10 naus e três caravelas, fortemente armadas e guarnecidas com homens de guerra, Pedro Álvares, tinha os meios materiais para cumprir sua missão principal, inaugurando para Portugal uma época de rara prosperidade, por conta das especiarias e das riquezas que passariam a entrar na Europa, trazidas nos porões dos navios portuguesas. 

Hoje há 500 anos, as aves, os fura buchos, no fim do dia, voando em direção à oeste confirmaram para os práticos da esquadra a direção da terra e a certeza do rumo para levá-los a ela.

O comandante sabia que era uma questão de horas ouvir o grito de “Terra a Vista”.

Sabia também que estava apenas oficializando uma realidade que Portugal já conhecia, e garantir para seu rei a posse de um território cuja localização não era mais segredo e que em breve seria alvo de disputas sangrentas com espanhóis e franceses.

E Cabral sabia ainda que acima de tudo o verdadeiro motivo da sua viagem eram as especiarias. Diante disso, o que será que o almirante, na solidão da cabine da nau capitânia, sentiu ou pensou às vésperas de colocar seus pés no chão de um novo mundo?
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

 

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.