Tiradentes
[Crônica de 21 de abril de 2006]
Um país é feito de história e de mitos. A soma cria a liga na qual se baseia a sociedade, onde se encaixam as peças que permitem ao todo sobreviver e seguir em frente, desafiando seu destino em busca de um futuro melhor.
Todo país tem lendas e mitos grandiosos onde personagens nem sempre tão verdadeiros ocupam o imaginário popular, servindo de exemplo para o dia a dia do cidadão comum, servindo de mola para a vontade de andar pra frente, servindo de paradigma para as gerações que vem depois.
Durante anos eu me perguntei como Solano Lopez que para o Brasil sempre foi um ditador monstruoso poderia ser herói nacional do Paraguai. Só encontrei a resposta quando me caiu a ficha que toda história tem dois lados e que, nem sempre, todos os fatos aconteceram como dizem que se deram. Ou pelo menos se deram de forma um pouco mais pra cá ou um pouco mais pra lá do que na versão do vencedor.
A história recente tem sempre muito da visão do vencedor e quando o vencedor não tem heróis muito grandes para substituir os ídolos dos vencidos, ele os cria, tirando da lenda e dando-lhes forma humana, ainda que parecendo com Jesus Cristo, como é o caso de Tiradentes.
A república precisava heróis para substituir os heróis do império, começando pelos dois imperadores. A resposta imediata foi a criação do mito de Tiradentes, que nunca usou camisolão, nem cabelo a Jesus Cristo.
Não era da época, mas também não compromete a importância da Inconfidência Mineira, nem a postura do herói que assumiu toda a culpa e foi o único morto. Tiradentes é o bom exemplo que toda nação precisa. Por isso pensar nele é uma forma de querer melhorar e isso é bom para todos.
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