O auge das floradas
[Crônica de 30 de abril de 2003]
Mesmo tendo começado mais cedo, o auge da florada das paineiras está acontecendo agora, no final de abril, começo de maio, como se espera que aconteça, em nome da boa ordem cósmica e da sucessão natural das floradas em São Paulo.
Como todos os anos, as paineiras estão prestando sua homenagem a São Paulo e a população da cidade, que corta um duro danado, atrás do pão nosso de cada dia, cada vez mais difícil e mais perigoso de ser arranjado.
As paineiras são árvores muito temperamentais, tanto que Mário de Andrade, cantando em versos um homem temperamental de São Paulo, o comparou com a paineira – com sua crueldade para consigo mesma – nos espinhos que impedem que os outros se aproximem, ainda que para serem amigos.
Mas elas também sabem ser generosas e mostram isso nas flores deslumbrantes que cobrem o cinza da cidade, dando pra São Paulo um ar alegre, de festa, como que comemorando a primavera no lugar do outono.
Até seria assim se São Paulo não fosse São Paulo. Acontece que São Paulo é São Paulo e aí, dizer que a primavera é mais bonita do que o outono pode ser um certo exagero, porque aqui as quatro estações podem acontecer num único dia, que poderia ter o minuto mais bonito do ano, quase que sem ninguém percebendo, porque em seguida, poderia ter, também, o mais feio, com todo mundo sentindo.
Mas, agora, o que vale são as cores lindas das flores das paineiras. Sua festa, sua alegria desmedida, sua luxuria e acima de tudo, sua homenagem para um povo que merece ser feliz
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