O mundo encantado de Monteiro Lobato

[Crônica de 15 de maio de 1998]

Comemorando os 50 anos da morte de Monteiro Lobato, o Sesc montou uma exposição deslumbrante, revivendo o mundo encantado do melhor escritor brasileiro. Se Monteiro Lobato escrevesse em francês ou em inglês, com certeza ele teria a mesma estatura dos irmãos Grimm ou de Mark Twain.

Sua obra infantil é de uma riqueza única, com ideias inigualáveis, personagens imbatíveis e um alto teor didático, que agrada adultos e crianças, prendendo a atenção durante toda a leitura.

A Emília é dos personagens mais ricos que já foram criados em qualquer literatura do mundo e a ideia do visconde de Sabugosa, uma espiga de milho que é um grande sábio, é de uma originalidade ímpar.

Imagine uma senhora de mais de setenta anos andando num carrinho de bode puxado por um rinoceronte, ou um ataque de animais comedores de carne, comandado por um “onço” burríssimo, ou uma viagem ao céu que traz para a terra um anjinho de asa quebrada, ou a transformação do navio do capitão Gancho num iate de recreio que navega no tempo até a Grécia antiga…

Estas são apenas algumas ideias, tiradas de um arsenal milionário, para mostrar a riqueza de uma obra colossal, que, desde a primeira metade do século, com a edição de reinações de Narizinho, permanece atual e encantando quem a lê.

E, se a obra para adultos não tem a mesma uniformidade da obra para crianças, nela também se encontram algumas joias da literatura brasileira. Os contos A Vingança da Peroba e um Júri na Roça estão no mesmo nível do que existe de melhor escrito em português.

É este universo encantado, este mundo de sonho, nascido da cabeça de um homem de gênio, que teve a coragem de recusar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, por conta da eleição de Getúlio Vargas para ela, que o Sesc recriou com rara felicidade, numa exposição que nos diz com todas as letras que ser feliz é possível e que depende só da gente.

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