A espatódea da Rua Alvarenga
[Crônica de 13 de janeiro de 2009]
A Rua Alvarenga é uma rua complicada. Não porque queira, mas porque ficou. A começar pelo nome. Para quem não sabe, o 23 de maio de 1932 teve mais uma vítima, o jovem Alvarenga, que por ter morrido alguns dias depois da tragédia, acabou fora da famosa sigla MMDC.
Como as coisas acontecem por linhas tortas, a prática consertou a falha e no dia a dia da cidade, a Rua Alvarenga transformou-se na mais conhecida das ruas que homenageiam os cinco mártires da Revolução de 1932.
Se fosse só isso, tudo bem, não haveria consequência mais séria. A história estaria vingada e a estória acabava por aí. O problema é que na rotina urbana que faz de São Paulo uma fábrica de loucos, a Rua Alvarenga transformou-se no grande corredor que une a metrópole ao sul e ao oeste do país.
É por ela que sai o tráfego para as Rodovias Regis Bitencourt e Raposo Tavares e isso não é história, nem estória, isso é dor de cabeça e complicação da grossa.
Quem tem imóvel no pedaço que o diga. Inclusive porque o zoneamento da cidade considera a área residencial e impede a utilização racional da rua, dando-lhe uma destinação compatível com o trânsito pesado que a tortura diariamente.
Quem sabe seja por isso que a Rua Alvarenga tem árvores especiais. Quem sabe seja a forma da natureza e do destino unirem forças para proteger o pedaço.
Se ela já era famosa pelas paineiras plantadas no seu começo, agora, sem aviso, nem discussão, um flamboyant decidiu mostrar que também pode. E o resultado é mais uma árvore embelezando a rua feia.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.