Um país do arco da velha
[Crônica de 2 de setembro de 1999]
Enquanto o mundo, ou pelo menos os países ricos do mundo, fazem leis dentro do razoável e se esforçam concretamente para torná-las boas e melhorar as condições de vida de sua população, aqui as coisas são feitas ao contrário.
Nossas leis são sempre escritas de forma moderna e politicamente correta, só que sem qualquer base na realidade.
Ninguém nunca ouviu falar de alguma lei sueca que diga que não pode ter criancinhas pedindo esmola nas ruas de Estocolmo. E, no entanto, na única vez que estive na Suécia, curiosamente, não vi nenhuma criancinha pedindo esmola nas ruas da capital.
Para não dizerem que sou leviano, antes de afirmar que nas ruas de Estocolmo não tem crianças de rua, fiz uma pesquisa com todo mundo que conheço, e que foi e que não foi para Estocolmo, e, mais curioso ainda, não achei ninguém que tenha visto crianças de rua pedindo esmola nas esquinas Vikings.
Alguém pode argumentar que é porque a Suécia é fria, mas, mesmo nos dias de verão, que são poucos, nem assim, nos últimos 25 anos, foi vista alguma criança pedindo esmola nas ruas da simpática capital.
Por outro lado, o Brasil tem uma lei maravilhosa, dizendo em suas letras de ouro que não pode ter criança de rua, e que criança não pode ser maltratada, e que trombadão, seja traficante de droga, assassino ou estuprador de crianças menores, também é criança e que por isso não pode ser preso.
E aí é comparar:
Enquanto na Suécia, mesmo com a possibilidade legal de poderem crescer livres e felizes, cheirando cola nas esquinas dos parques de Estocolmo, as crianças insistem, em vez de ficarem nas ruas, em terem casa, escola, médico e todo o resto que precisam, para serem nédias e saudáveis; do nosso lado, mesmo sendo proibido por lei, as crianças de rua se multiplicam num ritmo muito mais rápido do que os micos leões dourados, que também são protegidos por lei.
É triste e é apavorante, mas é assim.
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