A igreja de São Francisco

[Crônica de 8 de setembro de 1999]

Os franciscanos chegaram em São Paulo um pouco mais tarde do que as outras ordens que vieram no primeiro momento da colonização da terra.

Quem sabe por isso tenham caprichado na estética de seu complexo, no largo de São Francisco. Suas duas igrejas e seu mosteiro, depois transformado na primeira escola de direito do país, formam até hoje, quando a faculdade já não tem mais as linhas reta do convento original, um dos mais belos conjuntos arquitetônicos da cidade.

Das duas igrejas a mais importante e principal deveria ser a igreja de São Francisco, só que não é. A igreja mais bonita e mais rica é a igreja da Ordem Terceira, erguida ao lado da igreja mãe, quase que ao mesmo tempo, por volta de 1640.

Hoje nenhuma delas conserva as linhas originais, tendo ambas sido modificadas no século 18, quando o barroco, mais rico e mais trabalhado, substituiu as capelas da primeira metade do século 17.

A igreja de São Francisco, com sua única torre lateral e a fachada pintada com cor de tom colonial é uma igreja típica daquele período paulista, deixando ver em suas linhas já trabalhadas a força do barroco tentando se impor à pobreza da vila.

Pequena, com a fachada mais estreita do que a de sua irmã e muito menor do que a faculdade de direito atual, a igreja de São Francisco, ainda que espremida entre as duas, conserva uma dignidade impressionante, não admitindo ser menos, sob o aspecto for.

E dentro, ela é comovente.  Sua nave curta e suas linhas retas; seus altares simples; suas paredes pouco adornadas preservam a lembrança do tempo em que ser paulista era duro, porque a vida na boca do sertão, tirando sonhos de dentro da mata, era muito dura.

Quase tão dura quanto as madeiras usadas na sua construção, e tão reta quanto o caráter dos cidadãos daqueles tempos em que viver era descer o Tietê para arrancar o ouro das entranhas do Cuiabá.

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