A vez dos jacarandás
[Crônica de 15 de junho de 2006]
Pouca gente sabe, mas São Paulo tem uma árvore símbolo e ela não é o ipê amarelo, como costumam dizer. A árvore símbolo de São Paulo é o jacarandá, esta árvore não tão comum, mas que agora começa florir fazendo força para se igualar às grandes floradas da capital, ainda que sabendo que pelo número pequeno, não têm chance.
Como os 300 de Esparta, os jacarandás não desistem, não cedem, nem saem da frente das outras árvores que esperam seu tempo chegar para poderem florir.
A briga é mais direta com os ipês, também árvores da mata Atlântica original e que como os jacarandás, chegam a ter troncos colossais, que precisam vários homens de braços dados para conseguir rodeá-los.
É verdade que os jacarandás e os ipês urbanos ainda não chegaram nestas dimensões. Nem poderiam, porque como árvores de troncos duros, precisam de séculos e séculos para atingir seu pleno desenvolvimento.
É com ternura que eu vejo os jacarandás plantados por São Paulo se armarem com seus cachos de flores rosas, cobrindo suas áreas com a cor deslumbrante de suas flores, como se elas fossem armas capazes de deixar o feio e o ruim para fora, dando para cidade uma qualidade de vida que, dependendo do lugar, faz muito tempo que ela perdeu.
Mas, se nas ruas existem poucos jacarandás, nos cemitérios eles fazem a diferença. E entre os cemitérios que todos os anos ficam deslumbrantes, enfeitados pela florada de sonho dos jacarandás cumprindo seu ciclo de vida, o cemitério São Paulo é um privilegiado.
Ano após ano, no mês de junho ele explode no rosa das árvores símbolo de São Paulo. Que, quem sabe, conhecedoras das trilhas antigas, estejam mostrando aos homens de hoje a precariedade da vida.
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