O ipê roxo e o vizinho que quer cortá-lo
[Crônica de 05 de julho de 2002]
O Butantã tem algumas árvores lindas espalhadas pelas ruas e pelos jardins das casas. São árvores brasileiras e importadas, numa bagunça ordenada naturalmente, sem qualquer critério humano, mas formando um conjunto harmonioso que atrai pássaros de todos os tipos, inclusive gaviões pinhé, atrás dos sacos de lixo onde encontram comida farta e barata, sem fazer esforço.
Entre estas árvores existe um ipê roxo deslumbrante, plantado quase em frente da casa de um casal amigo meu. É uma árvore rara de ser vista na cidade. Seu tronco é grosso e forte e alto, como se o ipê estivesse na mata e não numa rua de bairro ameaçado pela especulação imobiliária e pela insensibilidade das autoridades, ainda que sendo um dos pulmões de São Paulo, justamente por causa das árvores que crescem nele.
O ipê da frente da casa dos meus amigos é imponente o ano inteiro, mas fica lindo nesta época, quando começa a perder as folhas para dar espaço para as flores.
Para os cachos deslumbrantes que vestem a árvore para o inverno, alegrando a vida em volta, exatamente quando a cidade fica mais cinza e mais triste, em função do clima.
O inacreditável é que no ano de 2002, depois de toda luta ao redor do mundo, por um mundo melhor e mais verde, ainda tem gente que acha que a melhor solução para uma árvore como este ipê é cortá-lo ou dar um jeito de matá-lo, colocando veneno na raiz.
Pode parecer incrível, mas um vizinho do casal meu amigo já tentou propor uma conspiração para matar o ipê, porque antes da florada ele perde as folhas, que caem nos jardins, sujando e dando trabalho.
Enquanto existir gente assim – e não são nem um, nem dois – o mundo estará permanentemente ameaçado e as pessoas de bem terão muito trabalho para segurar o rojão.
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