O frio
[Crônica de 31 de julho de 2000]
Não é à toa que os pinguins decidiram vir para o Brasil às centenas. Com o frio que tem feito, até urso polar, daqui a pouco, vai querer mudar de endereço. Fazia muito tempo que um inverno não maltratava a gente como o deste ano e o pior é que nos pegou desprevenidos, sem qualquer estrutura para aguentar o frio que chegou e que parece que gostou de ficar.
O Sul do país parece a Europa, que, curiosamente, neste verão, está mais quente do que o nosso Nordeste, com as temperaturas passando dos 40 graus em Roma.
Dizem que a La Niña, a irmão do El Niño, é a responsável por isso. Pode ser, mas a informação não tem muita importância, porque o que importa agora é achar um jeito de parar de sentir frio.
É verdade que tem um lado gostoso nessa estória: com o frio a gente pode beber um vinho tinto sem muita culpa e comer uns fondues com menos culpa ainda, mesmo o médico garantindo que não é o ideal para o colesterol.
Com esse frio, que se dane o colesterol. A independência pode vir dentro de um ato da mais estrita sobrevivência. Para combater o frio o negócio é quebrar as regras e comer fondue, porque junto com ele vai um vinho tinto que todo mundo sabe que faz bem para o coração.
O problema é que nem todo mundo pode comer fondue. Aliás, não é todo mundo que tem muita coisa para comer, e aí a situação fica muito feia porque o frio mata e ficar na rua, desabrigado, sob temperaturas como estas é puro assassinato.
O Brasil não está preparado para um inverno rigoroso e mesmo criando um espetáculo lindo, com neve caindo como há muito não caia, a situação é trágica para milhares de pessoas sem condições mínimas de sobrevivência e que amargam os rigores do frio mal e mal protegidas por meia dúzia de trapos e um litro de pinga.
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