De repente se faz o caos

[Crônica de 27 de junho de 2003]

De repente, sem aviso prévio, exceto a abertura de um bar ou restaurante, o caos chega, olha e se instala; e uma região que até aquele dia era calma se transforma numa sucursal do inferno, com os piores círculos fazendo força para tomarem conta do pedaço, auxiliados pelos diabos de todos os tipos que deixam as profundas do Demo para nadarem de braçada na nova zona, consagrada ao barulho, às brigas e o mais que divide com o caos a certeza de fazer a cidade um lugar sempre pior.

Que o digam os moradores da rua Carla no Itaim Bibi, uma rua tradicionalmente calma, pequena, sem grandes emoções, que se transformou em estacionamento e motel, complicando a vida de quem tinha a vida mansa de rua de bairro de antigamente, quando as ruas eram pacatas e as pessoas se sentavam na calçada para jogar conversa fora.

Que o digam os heroicos moradores de ruas como a Mourato Coelho, velhas de décadas, com suas homenagens aos grandes homens do passado, mas que ninguém mais se lembra quem foram, ainda que tendo sido um dos principais bandeirantes de Fernão Dias.

Que o digam todas as vítimas do crescimento desordenado de São Paulo, que pagam impostos escorchantes, mas comem o pão que o diabo amassou, porque a administração da cidade não dá conta de manter um mínimo de ordem.

É triste, é feio e é trágico, porque em sua corrida louca atrás do vento e dos rumos dos Eldorados, desde o começo São Paulo, querendo crescer e criar mais riquezas, sempre se autodevorou, para desgraça de quem fica no meio do caminho.

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