As floradas de inverno
[Crônica de 7 de julho de 2005]
Esse ano as floradas vão seguindo seu ritmo mais ou menos sem alterações maiores. Cada planta tem respeitado seu momento, pelo menos no varejo, e, com as tradicionais exceções de praxe, quando árvores mais apressadas saem na frente, enquanto outras se guardam para depois da hora, vamos vendo São Paulo florir de forma homogênea, neste momento com o cemitério São Paulo puxando a fila das áreas mais coloridas, deixando alegre os dias de quem trabalha em suas alamedas e, porque não dizer, de quem descansa em seu chão santo.
Mas não é só o cemitério que floresce no começo do inverno. Várias ruas da cidade estão enfeitadas com os cachos de flores roxas penduradas nos jacarandazinhos ou em alguns ipês mais apressados.
É bonito passar por elas. Bonito e diferente, na medida que essas mesmas ruas costumam ter outras árvores, florindo em outras épocas, o que as fazem ter a cada mês um jeito novo, como as mulheres vaidosas que se enfeitam de dia e de noite, com baile ou sem.
É pena que as floradas não se estendam pela metrópole inteira. É pena que uma parte grande continue cinza, na vida, nos muros, na tristeza que cresce no peito de quem mora nela e não tem uma flor – uma única flor – para alegrá-lo durante todo o ano.
São manchas terríveis, como as manchas que marcam o corpo de quem tem uma doença séria. Manchas que aumentam a violência, a falta de solidariedade, a indiferença.
Vida é cor. Vida é cheiro, é flor. Vida é sair na rua e ver uma flor balançando num galho sem outro motivo, senão balançar. É achar bonita a flor balançando e assobiar porque a flor nos deixa leves, feito os galhos das árvores floridas onde os pássaros pousam para espiar a vida.
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