Alguns ipês ainda resistem

[Crônica de 21 de agosto de 2009]

Não adianta dizer que é hora deles irem embora, que seu momento passou. Que o show tem que continuar e que agora é a vez de outro, que vem depois, conforme o longamente ensaiado, desde que o mundo é mundo, ano após ano, sempre seguindo uma coreografia mais ou menos precisa, com variações independentes da vontade dos atores.

A vez dos ipês roxos ficou pra trás. Quer dizer, parece. Porque de verdade, tem árvores teimosas que se recusam a aceitar os fatos, e continuam aí, com jeito de bobas, floridas, como se seu momento acabasse de chegar.

E o duro é que não estão cobertas com duas ou três flores teimosas, que deveriam ter caído, mas que se agarram aos galhos e não caem. Ao contrário, alguns estão completamente cobertos de flores. Tantas, que fica até difícil ver seus galhos.

E não há nada que se possa fazer para alterar a festa. Vieram para ficar e enquanto alguma força maior não der o sinal, não irão embora, doa a quem doer.

A natureza também tem destas coisas. Gente de opinião, que não aceita palpites, e muito menos ordens. Até parecem os motoristas alucinados que tentam andar por São Paulo, e como não conseguem, até quando insistem, passam os semáforos fechados em sinal de protesto.

Coisas da vida. De um mundo cada vez mais louco, ou não, dependendo do ponto de vista.

Dizem que somos responsáveis pelas mudanças maiores que interferem no comportamento individual e que acaba alterando a ordem natural das coisas. É dar muita importância para seres muito pequenos. De tempos em tempos a terra muda e ninguém tem nada com isso.

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