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As pitangueiras carregadas

[Crônica de 11 de setembro de 2008]

As pitangueiras estão longe de serem das árvores mais conhecidas da cidade. Pelo contrário, são desconhecidas do grande público em geral, que também nunca comeu pitanga e por isso não sabe o que está perdendo.

Todos os anos a marca palpável da chegada da primavera, para mim, é a carga da pitangueira da Dona Iolanda, minha antiga vizinha, no Butantã. A árvore fica na frente de sua casa, na calçada, e quando desabrocha seu momento, se enche de frutas vermelhas, balançando nos galhos, esperando alguém comê-las.

Faz muitos anos que religiosamente espero este momento. Pela delícia que é comer pitanga no pé e pela chegada da nova estação, prometendo fartura e bem-estar.

É um ritual antigo, desde que me mudei para o bairro e fui morar numa casa simpática, numa rua sem saída, com cara de cidade do interior, não fossem os travestis que usam o pedaço para se esconder da polícia, quando a polícia dá em cima deles, o que é cada vez mais raro.

Mas esta crônica é para falar das pitangueiras e de sua carga de frutos vermelhos que dão o nome para a árvore. Como quase toda descoberta, este ano me dei conta da época quase que por acaso. Caminhando na USP vi algumas pessoas comendo amora debaixo do arbusto.

Como amoras e as pitangas carregam quase juntas, percebi que estamos na boca da primavera e que é hora de pegar minha bicicleta e pedalar até a casa da Dona Iolanda para repetir o meu velho ritual de comer suas pitangas, em nome de todas as coisas boas.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.