As pitangueiras carregadas
[Crônica de 11 de setembro de 2008]
As pitangueiras estão longe de serem das árvores mais conhecidas da cidade. Pelo contrário, são desconhecidas do grande público em geral, que também nunca comeu pitanga e por isso não sabe o que está perdendo.
Todos os anos a marca palpável da chegada da primavera, para mim, é a carga da pitangueira da Dona Iolanda, minha antiga vizinha, no Butantã. A árvore fica na frente de sua casa, na calçada, e quando desabrocha seu momento, se enche de frutas vermelhas, balançando nos galhos, esperando alguém comê-las.
Faz muitos anos que religiosamente espero este momento. Pela delícia que é comer pitanga no pé e pela chegada da nova estação, prometendo fartura e bem-estar.
É um ritual antigo, desde que me mudei para o bairro e fui morar numa casa simpática, numa rua sem saída, com cara de cidade do interior, não fossem os travestis que usam o pedaço para se esconder da polícia, quando a polícia dá em cima deles, o que é cada vez mais raro.
Mas esta crônica é para falar das pitangueiras e de sua carga de frutos vermelhos que dão o nome para a árvore. Como quase toda descoberta, este ano me dei conta da época quase que por acaso. Caminhando na USP vi algumas pessoas comendo amora debaixo do arbusto.
Como amoras e as pitangas carregam quase juntas, percebi que estamos na boca da primavera e que é hora de pegar minha bicicleta e pedalar até a casa da Dona Iolanda para repetir o meu velho ritual de comer suas pitangas, em nome de todas as coisas boas.
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