O Largo do Arouche
[Crônica de 15 de outubro de 2008]
São Paulo é uma cidade com alma. Aliás, com várias almas que compõem uma alma maior que a faz, apesar de todos os pesares, uma metrópole fascinante e um lugar único para se morar.
Se de um lado a visão é pós-moderna, com prédios novos e brilhantes se lançando em direção ao céu como se quisessem comer a lua, de outro, as construções mais velhas tocam do jeito que dá, rindo dos arranha-céus recém-chegados, porque sabem que não adianta querer comer a lua, que ela foge sempre, e continua iluminando a cidade, até quando chega a decadência, inexorável, como o tempo.
São Paulo é uma entidade móvel que se espalha por uma imensa área há quase 500 anos. Vai, volta, faz que vai e não volta, faz curvas, depois segue em frente, para enganar todo mundo, retornando ao que era o ponto partida, mas que virou chegada.
Entre estas idas e vindas, a cidade foi se moldando em bairros que mantiveram ou não suas características originais.
Alguns começaram de um jeito para acabar de outro completamente diferente. E o curioso é que alguns que começaram destinados a ser pobres se transformaram nos cantos mais ricos da cidade, enquanto outros, no princípio, ricos, se transformaram em imensos cortiços.
Entre os locais mais típicos da cidade vale visitar o Largo do Arouche. Meio de caminho entre o centro novo e Higienópolis, a praça é única, por todas as razões, mas principalmente pelos seus personagens.
No Largo do Arouche crianças brincam perto de travestis, enquanto traficantes de drogas cruzam com a polícia instalada num trailer. Senhoras de idade e mulheres fazendo a vida dividem o espaço, e as árvores balançam o sonho de ganhar na loteria do funcionário do estacionamento.
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