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Perspectivas

[Crônica de 28 de agosto de 2001]

Dependendo do jeito como são vistas, as mesmas coisas aparecem de formas muito diferentes. Um outro ângulo, um olhar enviesado, uma luz difusa, o brilho do sol, são suficientes para mudar tudo, fazendo o que era deixar de ser, para se transformar na mesma coisa, com outro jeito.

Alguém já fez um filme em que as testemunhas de um crime contam versões quase que opostas dos fatos e de como eles se deram. E é verdade que é assim. Dificilmente duas pessoas concordarão integralmente sobre o que viram e o que deixaram de ver. Um dirá que o céu estava azul e o sol brilhava, outro que uma nuvem cobria os fatos e por aí vai.

A posição de cada um, a atenção, o momento em que olha, tudo é diferente do outro, e nem poderia ser de outra forma, na medida que duas pessoas nunca estão fazendo exatamente a mesma coisa, e muito menos do mesmo jeito.

Por conta disto é que um jogo de futebol, dependendo de onde se está, aparece diferente, também. Alguém sentado no meio do campo, a uma certa altura do gramado, terá uma visão muito melhor do que alguém sentado na grama, atrás de um dos gols.

E a coisa fica mais diferente ainda quando o jogo é visto de cima. Quer dizer, do alto mesmo e não da arquibancada.

Muda tudo, começando pelo jeito que a gente vê os jogadores correndo. Como estão sendo vistos do alto, a perspectiva é outra, com a cabeça aparecendo primeiro, os ombros depois e finalmente os braços e as pernas, como estranhos tentáculos de um polvo mais estranho ainda.

E a bola adquire um movimento linear, onde a altura se confunde com a sombra do campo e nos impede de dizer se está alta ou baixa. É gozado e me faz pensar na dificuldade que um cameraman deve ter na primeira vez que filma um jogo vendo de cima.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.