Retratos da cidade
[Crônica de 12 de agosto de 2009]
A esquina escura assusta. A pouca iluminação, somada a má fama do pedaço preocupa o motorista que chega com o semáforo fechado. O risco de ficar parado é grande. Assaltos acontecem regularmente, sem que ninguém faça nada para impedi-los, ainda que a região sendo conhecida e famosa, justamente pela violência e pelos assaltos.
Mas não há o que fazer. O sinal está fechado e o tráfego na outra rua não permite a entrada com a luz vermelha. Então é ficar parado, rezando para que os dois indivíduos que vêm na direção do carro não sejam assaltantes, não estejam drogados, nem armados com armas de fogo.
Mas as chances são contra você. Ao vê-los, você sabe disso. São assaltantes, um está drogado e os dois portam armas de fogo, sendo que o drogado carrega uma pistola 380.
O encontro é rápido. O com jeito mais lúcido chega na janela do motorista, bate com o cano do revólver e diz que é para passar o relógio, dinheiro e o celular.
O drogado vai para o outro lado. Olha pra dentro do carro e começa bater cada vez mais forte com a pistola no vidro da janela do passageiro.
Qualquer reação é um pedido para levar tiro, seja do lúcido, seja do drogado. Se ficar o bicho mata, se correr o bicho pega. As duas alternativas são ruins. Mas abrir o vidro também é ruim já que os movimentos podem ser entendidos como reação, e aí a chance do tiro cresce exponencialmente.
O jeito é rezar e entregar a alma. Colocar as mãos no volante e iniciar os movimentos para passar o celular, o relógio e o dinheiro de forma bem lenta, cantando cada passo para os bandidos se sentirem seguros.
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