A volta dos pernilongos
Tem gente que não se importa, tem os que têm pena, tem os que deixam pra lá porque não tem o que fazer e tem os que enfrentam o desafio e se pegam com eles em lutas heroicas, que podem se estender por boa parte da noite, nem sempre com a certeza da vitória do ser humano.
Não, a vitória é incerta, tanto faz o campo de batalha – as Termópilas, Argencourt, Verdun ou as Ilhas Marianas. Vencer é mais do que estar mais armado, mais preparado ou com mais direitos. Nem sempre o bem vence o mal, nem sempre a boa luta vence as más intenções por trás dos atos de ditadores, conquistadores e outras dores que aparecem no meio do caminho. Seja uma pedra ou uma bala de obus.
A regra vale também para as lutas menores, MMA, boxe, briga de rua e caça aos pernilongos, que começam a voltar e a ameaçar a paz de uma boa noite de sono com seu zumbido maquiavélico, muito mais cruel do que a picada que coça, mas não é terminativa.
O zumbido de um pernilongo, ou melhor, de uma pernilonga, tem o dom de destruir a paz conjugal, de aterrorizar a noite, de levar a cizânia aos lares mais bem construídos.
Durante o frio, eles e elas somem, mas o calor abissínio que atingiu São Paulo fez com que começassem a voltar, com as fêmeas dispostas a sugar o sangue do mundo, aproveitando os meses mais quentes e as noites em que dormimos pouco cobertos pra fazer a festa e se refastelarem.
Neste momento, o cenário ainda está se definindo. Que eles já chegaram, já chegaram. Quem garante é a moradora do sexto andar de um prédio em Higienópolis, lugar pouco provável de serem encontrados.
Se estão lá, quer dizer que em pouco tempo estarão pela cidade inteira. Deus tenha piedade da alma, porque o corpo será sugado…
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