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Uma ação perigosa

Em princípio, não haveria risco maior em se dormir dentro de um automóvel. Bom, essa regra era verdadeira até alguns anos atrás. Hoje, a coisa não é mais bem assim e é triste.

Quantas vezes saí de carro por este Brasil a fora e, na falta de hotel, ou outro lugar melhor para dormir, dormi dentro do carro? Não foram poucas e a quilometragem também não foi pequena.

Meu primeiro carro, um Opala Especial, 1971, em dois anos rodou quase cem mil quilômetros, andando pelo país quase que inteiro. E, daí pra frente, não mudei muito meu ritmo, tendo cruzado caminhos fantásticos, ajudado por tratores, homens e até burros, dormindo no carro sempre que não teve outro jeito.

Mas se isso era gostoso, hoje é perigoso. Fico imaginando alguém dormir dentro de um carro, mesmo em lugares menores, durante um carnaval. Acho que não tem muito como ele não ser assaltado durante a noite, esteja onde estiver, de norte a sul do país.

Se na minha época dormir dentro de um automóvel podia ser incômodo, e, dependendo do carro realmente era, hoje é impossível, porque o risco de vida não compensa a proeza.

É por estas e por outras que o mundo está ficando um lugar meio chato.

É verdade que deve ter compensações até mesmo fantásticas, mas, para mim, poucas conseguiriam dar a sensação de liberdade que é ver o sol nascer numa praia, saindo imenso do fundo do mar, acordando no porta-malas de uma perua com o banco de trás abaixado, por causa da luminosidade do dia.

Ver a bola de fogo subir, saindo das águas e tingindo o horizonte e o mar de vermelho, enquanto o céu vai ficando azul e as ondas morrendo na praia tomam forma e levantam, correm e quebram, brancas de espuma…

É pena que não dá mais para dormir dentro de um carro…

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.