Cem anos do Dr. Jorge

Ontem, 24 de outubro, meu pai teria comemorado seu aniversário de cem anos. Mas ele não chegou lá. Morreu no dia 3 de abril de 2006, aos oitenta e quatro anos, o que para um Mendonça foi uma marca importante.

Ele foi um homem especial. Muito inteligente, muito charmoso e muito culto. Com sede de vida e de sempre saber mais, ele navegava pelos mais variados ambientes e por quase todos os assuntos.

Não me lembro de meu pai sem um livro com ele. E ele lia riscando e anotando. Desde pequeno me habituei a ver revistas como Times e News Week regularmente em cima da mesa do seu escritório.

Mas, além de ler e estudar, ele gostava mesmo de conhecer e conviver com gente. Conversava com todo mundo, do ministro e do governador ao operário da Usina, do banqueiro ao colono da fazenda, do industrial ao dono da banca de jornal, do professor ao caseiro da casa de Cananéia.

Durante mais de 50 anos ele se reuniu, praticamente todos os dias de semana, no final da tarde, com seus primos e um grupo de amigos da vida inteira. Era uma mesa fascinante que, por um tempo, deu certo ar de mistério ao hoje quase esquecido São Paulo Clube.

Ele gostava de gente jovem e era comum varar madrugadas sentado na sala, conversando e bebendo uísque com os amigos meus e de minhas irmãs. E ele conversava sobre tudo. Inclusive dava conselhos para os namorados em situações mais complicadas.

Ele nos incentivava a convidar amigos para passar as férias na fazenda e no Guarujá e ele se divertia junto com a gente, navegando, cavalgando, soltando bombas, rindo e jogando conversa fora.

Mais que pai, ele foi meu grande amigo e meu companheiro pelas quebradas da vida. Ele e minha mãe, uma mulher, ao seu modo, extraordinária, têm lugar especial em boa parte da minha história.

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