A fábrica de loucos

O trânsito em São Paulo é uma das mais importantes fábricas de criar loucos do mundo. Aqui o limite é absoluta falta de limites. Tudo que alguém imagina que é impossível acontecer, acontece, na cara de todo mundo, sem ninguém ficar espantado, ou ir além de uma balançada de cabeça.

E o melhor é não ir. Aliás, até a balançada de cabeça precisa ser dada de forma quase que imperceptível, porque o outro pode ver, achar que você não gostou, não gostar de você não ter gostado, e te dar três tiros por conta da insatisfação com a sua atitude.

São coisas da fábrica de loucos que é o trânsito paulistano. E são coisas que vão permitindo que as amebas fiquem mais ricas, fazendo palestras sobre sobrevivência em ambientes hostis para grupos cada vezes maiores.

O sucesso dessas palestras tem sido tão grande que já tem até bispo de igreja alternativa e líder de partido político caçando amebas para engrossarem suas hostes – sabidamente preocupadas com a felicidade alheia.

Para se ter uma ideia do que é andar de carro por São Paulo basta entrar num carro e colocá-lo na rua. Não importa qual. De rua de bairro, a avenida de trânsito intenso, não há uma que possa se vangloriar de não ter servido de palco para algum tipo de irregularidade durante todo um dia.

O duro é que estas irregularidades invariavelmente chegam às raias do desatino num passe de mágica.

Você vai muito bem obrigado, quase que de bem com a vida, e de repente, um estafermo ensandecido sai sabe Deus de onde e cruza a sua frente como o super homem salvando a terra.

Ou então, para. Simplesmente para, no meio da rua, como se estivesse dentro de uma garagem e fosse tudo dele, e não viesse ninguém atrás.

É apavorante, mas é a nossa realidade. É por isso que eu recomendo o curso de sobrevivência das amebas.

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