Os crimes e o tempo
Quem acha que o crime só chegou a São Paulo nas últimas décadas, está redondamente enganado. Nos tempos coloniais, embora não tivessem a violência da constância atual, os crimes aconteciam e São Paulo teve durante muito tempo uma forca, erguida onde hoje é a Liberdade, no largo da Igreja dos Enforcados.
Para quem não sabe, a lei portuguesa era dura mas a pena de morte só era aplicada para crimes brutais, crimes que atentassem contra a natureza humana, como era vista naqueles tempos.
E nós temos as narrativas de mais de um enforcamento na cidade, algumas inclusive quase cômicas, não fossem trágicas, na medida que no final um homem perdia a vida, purgando seus crimes.
Como exemplo de que pena de morte não era comum na justiça portuguesa, vale lembrar que entre todos os inconfidentes mineiros, só Tiradentes pagou com a vida a aventura fracassada. Melhor e mais útil o degredo para África.
Entre os enforcamentos, um dos últimos, quando a forca já estava decadente e podre, demorou um tempão porque a corda arrebentou várias vezes, antes de se matar o condenado, depois que alguém arrumou uma corda nova.
E crimes de morte, desde o mais remoto começo de nossa história, os brancos se matavam, com algumas destas mortes desandando em verdadeiras guerras civis, envolvendo a cidade inteira.
Para não falar nos índios, que os padres jesuítas volta e meia encontravam comendo uma parte do corpo de um inimigo, moqueada em fogo brando.
Depois, com o passar dos séculos a coisa ganhou vulto, em crimes como o da mala, até desaguar na barbárie de hoje, quando o cidadão é quem está preso, cercado de grades, cercas elétricas e alarmes por todos os lados.
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