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Os crimes e o tempo

Quem acha que o crime só chegou a São Paulo nas últimas décadas, está redondamente enganado. Nos tempos coloniais, embora não tivessem a violência da constância atual, os crimes aconteciam e São Paulo teve durante muito tempo uma forca, erguida onde hoje é a Liberdade, no largo da Igreja dos Enforcados.

Para quem não sabe, a lei portuguesa era dura mas a pena de morte só era aplicada para crimes brutais, crimes que atentassem contra a natureza humana, como era vista naqueles tempos.

E nós temos as narrativas de mais de um enforcamento na cidade, algumas inclusive quase cômicas, não fossem trágicas, na medida que no final um homem perdia a vida, purgando seus crimes.

Como exemplo de que pena de morte não era comum na justiça portuguesa, vale lembrar que entre todos os inconfidentes mineiros, só Tiradentes pagou com a vida a aventura fracassada. Melhor e mais útil o degredo para África.

Entre os enforcamentos, um dos últimos, quando a forca já estava decadente e podre, demorou um tempão porque a corda arrebentou várias vezes, antes de se matar o condenado, depois que alguém arrumou uma corda nova.

E crimes de morte, desde o mais remoto começo de nossa história, os brancos se matavam, com algumas destas mortes desandando em verdadeiras guerras civis, envolvendo a cidade inteira.

Para não falar nos índios, que os padres jesuítas volta e meia encontravam comendo uma parte do corpo de um inimigo, moqueada em fogo brando.

Depois, com o passar dos séculos a coisa ganhou vulto, em crimes como o da mala, até desaguar na barbárie de hoje, quando o cidadão é quem está preso, cercado de grades, cercas elétricas e alarmes por todos os lados.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.