O calor ainda está no começo
Você não conhece as dunas do deserto do Saara. As montanhas de areia que os tuaregues atravessam montados em camelos, seguindo milenarmente as rotas das caravanas que varam o areal de oásis a oásis, numa peregrinação infindável, indo e voltando, na toada de seus antepassados, desde sempre, desde antes das Cruzadas, desde antes dos profetas, quando o mundo era quase vazio, mas as epidemias já se abatiam sobre os seres humanos.
Lá faz calor ao ponto dos tuaregues se vestirem com roupas de lã para reter a temperatura do corpo, muito mais amena que a temperatura exterior.
Não há opção, ou é ou é. O calor não permite andar quase nu, como quando vamos à praia ou quando ficamos trancados em casa, fugindo da canícula abrasadora que amolece o asfalto.
O problema é que aqui está fazendo calor parecido com o deles. E nós não somos tuaregues, não estamos adaptados a temperaturas tão elevadas, exceto os moradores de Marabá ou Cuiabá, onde o inferno abre suas comportas para dar uma ideia de como é lá embaixo.
As mudanças climáticas são reais e nós as sentimos na pele nos invernos mais frios e nos verões mais quentes. Este ano fez frio para valer. Agora é a vez do calor compensar, estatisticamente, um quadro que não poderia ficar desequilibrado. A soma e a divisão por dois de muito frio com muito quente dá uma temperatura amena.
A pena é que estatística não espanta calor. E o calor está aí, nas nossas casas, no nosso céu, nas manhãs que já começam meladas, no meio-dia insuportável, no fim de tarde suado e na noite mal dormida.
A saída está no ar-condicionado, no abençoado ar-condicionado, a primeira invenção feita para os moradores dos trópicos, que teve como consequência trazer um pouco de paz aos corpos torturados pelo calor.
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