Cem anos da semana
A Semana de Arte Moderna de São Paulo está completando cem anos. Criticada pelos não-paulistas, a crítica para eles tem razão de ser. Com ela, São Paulo toma o protagonismo carioca e muda o eixo cultural do país, na trilha das reformas sociais que movimentavam a vida do Estado, puxada pela imigração e pelo processo de industrialização.
Até 1922, o Rio de Janeiro era a Capital da nação e da cultura, a terra onde brotavam as grandes ideias, onde estava a Academia Brasileira de Letras e os grandes intelectuais do país.
Depois da Proclamação da República, o Rio tinha perdido o protagonismo político. São Paulo e Minas Gerias mandavam no tabuleiro onde os presidentes eram eleitos e os partidos faziam suas jogadas.
Com a consolidação do poder econômico, São Paulo começa a viver o impulso das novas ideias, no campo social, trazidas pelos imigrantes; no campo cultural, pelos paulistas que tradicionalmente iam à Europa e começavam a descobrir os Estados Unidos.
A Semana de Arte Moderna é um capítulo dentro de um movimento muito maior no qual se inserem a Revolução de 1932 e a criação da USP.
Esse triângulo – modernidade cultural, democracia e formação científica – dá a matéria para o Estado se desenvolver rapidamente, num processo de industrialização e modernização econômica-social crescente, que o distancia cada vez mais do restante do país.
A Semana de 1922 e a Revolução de 32 são marcos da evolução socioeconômica paulista. Seus desdobramentos e suas ideias rapidamente ocupam espaço na vida nacional e influenciam intelectuais de fora do Estado, como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Morais, Guinard, etc. A Semana de Arte Moderna foi muito além de uma semana em 1922. Até hoje ela impacta as artes e a cultura brasileira.
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