Carnaval sem carnaval
É carnaval, mas não tem carnaval. Este ano, a quarta-feira-de-cinzas não vai cobrar seu preço na ressaca monstra, no caminho perdido, no endereço fora de contexto, no banco de praça enquanto amanhece e a vida reencontra o ritmo de sua rotina.
Este ano é diferente. O carnaval é carnaval, mas não tem carnaval, não tem folia, brincadeira, bloco, mão boba e mão esperta, beijo na boca, tudo consentido e feito de comum acordo porque todo mundo é civilizado e politicamente correto.
Passou sexta-feira, sábado, domingo, segunda e terça. Passou sem ronco de cuíca, sem batida de surdo, sem trombone e sem fantasia, na monotonia da cidade girando seu cotidiano, como se fosse qualquer um dos outros trezentos e sessenta dias.
O carnaval vai acontecer em outra época, mas será que será carnaval? Será que o povo vai tomar as ruas porque é carnaval ou será que a festa vai sagrar a pandemia vencida, a vacina que funciona, a dose de reforço, a retomada da vida no compasso da vida, alegre, engraçada, nas mãos estendidas, no chope no final de tarde, no sorriso que abre todas as possibilidades?
Quem viver verá. Deixa o amanhã chegar amanhã e o ontem ficar na lembrança. Agora é a hora, agora é o presente, o momento de se viver intensamente o que você tem na sua frente.
Antes é cedo, depois é tarde. A vida não para, nem espera. As coisas são como são porque é assim que deve ser.
Não deixe a festa acabar, tanto faz se tem carnaval, se não tem carnaval. Agora é hora de curtir outro momento, outro sonho, outra ressaca. A vida pega pesado. Então, aproveite o que você tem de bom. Não deixe passar o momento. Com ou sem carnaval, toque em frente e seja feliz.
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