Intérpretes de deus
Encantado com suas obras, Deus decidiu que precisava alguém que a compreendesse, que admirasse a sua sutileza e se maravilhasse ante o indescritível.
O universo girando na dança maravilhosa das galáxias cortadas pelos cometas, a explosão dos sóis, a formação dos planetas, a vida…
Deus queria dividir sua obra maior com alguém que a entendesse, ainda que vagamente. Então, ele fez o homem.
Sua criação maior, se bem que longe de ser a sua imagem e semelhança. O espectador encarregado de olhar em volta e perceber o que deus havia feito, e dar graças e louvar o senhor por sua obra inigualável e pela possibilidade de participar dela.
Mas o homem decidiu se meter onde não devia e por conta da mulher e da cobra, acabou expulso do paraíso, e colocado na terra para purgar os pecados de adão, tendo que trabalhar pelo resto da eternidade.
Daí em diante a comunicação entre as partes se fez difícil. Deus simplesmente passou a falar na sua língua e o homem deixou de entende-lo, situação que se agravou bastante depois do episódio da Torre de Babel.
Irritado, Deus mudou os termos da conversa e para ser entendido criou os profetas. Mas os profetas são terríveis demais para falar das coisas belas da vida; do mistério da própria vida; da dança das estrelas; da dança do coração dos homens; e da alma e da natureza.
E Deus deu para alguns o dom da poesia. Foi a forma que ele encontrou para preservar o êxtase diante do mundo, e a pureza da entrega para acalmar o homem diante do medo do universo.
Os poetas são os intérpretes do senhor, os eleitos que traduzem a vontade divina e a tornam acessível, em versos que cantam no ritmo do homem um pedacinho dos sonhos que alegram a eternidade de Deus.
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