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Intérpretes de deus

Encantado com suas obras, Deus decidiu que precisava alguém que a compreendesse, que admirasse a sua sutileza e se maravilhasse ante o indescritível.

O universo girando na dança maravilhosa das galáxias cortadas pelos cometas, a explosão dos sóis, a formação dos planetas, a vida…

Deus queria dividir sua obra maior com alguém que a entendesse, ainda que vagamente. Então, ele fez o homem.

Sua criação maior, se bem que longe de ser a sua imagem e semelhança. O espectador encarregado de olhar em volta e perceber o que deus havia feito, e dar graças e louvar o senhor por sua obra inigualável e pela possibilidade de participar dela.

Mas o homem decidiu se meter onde não devia e por conta da mulher e da cobra, acabou expulso do paraíso, e colocado na terra para purgar os pecados de adão, tendo que trabalhar pelo resto da eternidade.

Daí em diante a comunicação entre as partes se fez difícil. Deus simplesmente passou a falar na sua língua e o homem deixou de entende-lo, situação que se agravou bastante depois do episódio da Torre de Babel.

Irritado, Deus mudou os termos da conversa e para ser entendido criou os profetas. Mas os profetas são terríveis demais para falar das coisas belas da vida; do mistério da própria vida; da dança das estrelas; da dança do coração dos homens; e da alma e da natureza.

E Deus deu para alguns o dom da poesia. Foi a forma que ele encontrou para preservar o êxtase diante do mundo, e a pureza da entrega para acalmar o homem diante do medo do universo.

Os poetas são os intérpretes do senhor, os eleitos que traduzem a vontade divina e a tornam acessível, em versos que cantam no ritmo do homem um pedacinho dos sonhos que alegram a eternidade de Deus.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.