O futebol é cruel
O futebol é cruel. Se, de um lado, é um esporte nobre, com valores importantes e lições de sociabilidade essenciais para pautar o rumo da sociedade, de outro, mostra o que o ser humano tem de feio, de bruto e egoísta. Mostra o lado malvado da força e ele é muito ruim.
Poderia falar das barbaridades que acontecem antes, durante e depois dos jogos. A forma como as pessoas se atracam, atiram, dão pedradas, facadas, pauladas e se matam, com ódio, sem remorso e capazes de fazer de novo se não forem presas depois dos primeiros crimes.
Não, não somos os donos da violência. Muito antes dela tomar vulto em terras brasileiras, torcedores ingleses já haviam mostrado o que a boçalidade travestida de paixão é capaz de fazer, nas dezenas de mortos durante um jogo na civilizadíssima Europa.
E a Europa segue sendo palco de cenas lamentáveis, não só de violência física, mas de violência moral, nos ataques racistas, nas agressões de gênero, que explodem sistematicamente nos países tidos como os mais civilizados do mundo.
Mas se a violência contra a torcida do outro time ou contra o próprio time é brutal em todas as partes, a violência contra os ídolos que falham é mais brutal e mais covarde. Fere mais fundo, vai na alma, mexe com os valores do atleta e o desmonta psicologicamente, porque não fez o que esperavam dele no momento que esperavam dele.
A rapidez que a torcida esquece as conquistas dos ídolos e transforma seus heróis de ontem nos vilões de hoje e de amanhã é apavorante. O torcedor de futebol não tem passado, não tem gratidão.
É o jogo de hoje e mais nada. O importante é a vitória aqui e agora. Se, antes, o ídolo deu títulos para o clube, foi antes. Hoje ele pipocou, não marcou o gol, falhou no pênalti. Abaixo o ídolo de ontem! Hoje ele é a vergonha da torcida. Pau nele!
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.