As mortes de meu pai e minha mãe

Meu pai morreu no dia 3 de abril de 2006 e minha mãe, no dia 3 de abril de 2015. Faz respectivamente dezesseis anos que meu pai morreu e sete anos que minha mãe mudou de endereço. Foram viver na eternidade, depois de um longa vida casados aqui na terra.

Eu só posso falar bem de meu pai e de minha mãe. Na soma dos nove fora da vida, fui privilegiado por ter Dr. Jorge e D. Tereza como pais. Eles foram pessoas especiais e pais especiais, em todo os sentidos.

Os dois, inteligentes, cultos, com as cabeças abertas, antenados no que acontecia em volta, desde pequenos minhas irmãs e eu, ou eu e minhas irmãs, na medida que sou o mais velho, tivemos uma educação fora da curva, com muita cultura, boas escolas, leitura, viagens e intermináveis bate-papos, que varavam a madrugada, na sala da nossa casa, com amigos e amigas, todos conversando com meu pai e minha mãe.

Eu sei que não é comum, mas eles participavam das nossas vidas e eram queridos pelos nossos amigos, que chegavam a se aconselhar, principalmente com ele, até em assuntos sentimentais.

Nas férias, levávamos amigos para a fazenda e para o Guarujá e tínhamos liberdade para fazer quase tudo, desde que não derrubasse a casa. Eram dias intensos e as férias daquela época eram mais compridas que as atuais. Os bons alunos começavam no fim de novembro e a volta às aulas era no começo de março. E as férias de julho duravam o mês inteiro.

Meu pai me ensinou a pescar, a gostar de mar, mato e campo, a viajar pelo Brasil e depois pelo mundo. Cada museu, cada monumento, cada concerto ou balé rendia longas conversas com ele e com minha mãe, que era inclusive minha companheira de teatro e cinema.

Que a eternidade lhes seja leve e que as tardes onde vocês estão sejam belas como o por do sol na Louveira.

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