O quase adeus às gravatas
Durante décadas eu usei diariamente uma coleira chamada gravata. Nunca achei graça no enfeite, mas, como tinha que usar, escolhia gravatas bonitas e de boa qualidade, o que faz que eu tenha até hoje gravatas, com mais de dez anos, com cara de novas.
Eu me orgulho, dentro da minha campanha contra o uso da gravata, de ter abolido a gravata, em primeiro lugar, quando era presidente, nas sessões da Academia Paulista de Letras e depois, quando fui provedor, na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Nunca vou me esquecer do grande ecologista Paulo Nogueira Neto me agradecendo, quando tirei a gravata da Academia Paulista de Letras. Como ele não costumava usar, ia nas nossas reuniões com uma malha de gola alta para esconder que estava sem gravata. Ele preferia sentir calor do que apertar o pescoço.
Teve gente que, no começo, olhou torto, mas, da mesma forma que na Santa Casa, a ideia foi rapidamente comprada e as reuniões sem gravata ficaram mais leves e não perderam nada de sua seriedade e compostura.
Aí veio a pandemia. A pandemia não acabou e continua sendo um desastre, com mais de 660 mil brasileiros oficialmente mortos e outras centenas de milhares de pessoas com algum tipo de sequela.
Mas, como tudo no mundo, a pandemia tem mais de um lado e o seu lado bom é que, com ela e com o isolamento social, a gravata foi praticamente encostada. As reuniões por vídeo acabaram com as formalidades e, entre elas, a gravata, que já estava perdendo força, foi deixada de lado, em nome do conforto e de uma forma muito mais despojada de viver e se vestir.
Nos últimos dois anos, usei gravata duas vezes. Uma para gravar um programa de televisão e outra numa posse na Academia Paulista de Letras.
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