O feriado esquecido
O Brasil é um país curioso. Até aí nada de novo, todos os países são mais ou menos curiosos, com suas tipicidades e seus jeitos dando-lhes características únicas, que os diferenciam de todas outras nações.
Um dos nossos traços típicos são os feriados e a nossa enorme capacidade em cria-los. Enquanto o mundo comemora dez ou doze datas, nós vamos paras cabeças, com alguma coisa perto de vinte, fora as “emendadas” quando o dia certo cai na terça ou na quinta feira.
Como traço típico não é ruim. Muito pelo contrário, apesar de termos menos férias oficiais do que nossos semelhantes do primeiro mundo, com certeza, nós temos menos dias úteis e é isto que faz a diferença.
De dia do padroeiro de Quixeramobim para fora nós comemoramos tudo. Tudo merece ser comemorado e é essa forte solidariedade nas comemorações que ajuda no processo da manutenção da unidade nacional, com brasileiros de sul a norte comemorando nossa senhora aparecida, o senhor do Bonfim, iemanjá, a quaresma, o Natal, o dia da criança, o dia do comerciante, do aventureiro, do camelô e tantas outras datas magnas, que merecem ser comemoradas em função de suas raízes atávicas, que fazem do brasileiro o brasileiro.
E é por isto que eu fico admirado e até mesmo revoltado ao constatar que a data que marca o começo desta enorme festa é permanentemente esquecida, não fazendo parte do rol de nenhuma das comemorações oficiais que param o país para maior glória da população.
22 de abril, data maior da nacionalidade tupiniquim, dia do descobrimento desta terra onde se plantando tudo dá, não consta assinalado em vermelho em nenhum calendário.
E olhe que ao seu lado, no 21, está preservada a memória de Tiradentes. Feriado dos maiores, com direito a desfile e salva de canhão.
Os dois juntos seriam quase que a perfeição e, no entanto, o 22, o dia em que tudo começou, passa batido, não merecendo sequer um ponto facultativo.
É um absurdo! Mais um neste país tão cheio de absurdos!
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