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A poluição vista de cima

Quem chega em São Paulo de avião tem uma das visões mais impressionantes do mundo: a cidade se espalhando, qual um polvo gigantesco, por centenas e centenas de quilômetros para todos os lados que se olhe.

Terceira ou quarta metrópole do planeta, a região metropolitana da grande São Paulo, além de super povoada é uma das mais extensas aglomerações urbanas do mundo.

Unindo em sua área a miséria mais brutal com a ostentação indecente de uma riqueza que coloca o brasil entre os países com pior distribuição de renda, a cidade acaba gerando uma violência impressionante, superior aos desmandos cometidos nas guerras civis e quase fora de controle, pela ineficiência do governo em lidar com o problema.

Mas, mais aterradora do que a violência que campeia solta, apavorando todas as regiões e seus moradores, e que não pode ser identificada do alto, é a violência da poluição, que destrói a vida, corroendo a cidade e seus habitantes, num processo perverso de autofagia, capitaneado pela fumaça dos veículos, que, de todas as cores, empesteiam o céu, tapando os horizontes e abafando a vida.

Na medida que o avião começa a baixar a nuvem escura – marrom avermelhada – vai ganhando corpo e tapando a visão, numa cortina densa que restringe a curva da terra a poucos metros à frente.

Antes do horizonte a nuvem fétida se encontra com o azul do céu limpo, formando uma linha definida, como a curva do oceano beijando as nuvens no fundo do céu.

Só que aqui, ao contrário do encontro das águas e dos ventos, a poluição suja que envolve a cidade ameaça devorar o céu, caminhando cada dia mais um pouco, mais um pouco, subindo fora de controle, como uma enorme torre de babel, destinada a desafiar deus.

Nada se interpõe entre o seu avanço e o infinito. Formada pela fumaça expelida pelas milhões de bocas do dragão insaciável que é a cidade em seu conjunto, ela se expande veloz, cobrindo toda a região com um manto, ou uma redoma opaca, que esconde a cor do céu e disfarça o seu veneno no cenário mágico de pores do sol intergalácticos.

São Paulo vista de cima é impressionante, mas, mais impressionante do que a megacidade em seu ritmo frenético é a poluição. A nuvem aterradora que nos esconde de deus, dando aos moradores da cidade uma antevisão das caldeiras do inferno.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.