Tempo de pôr do sol
São Paulo tem um dos mais belos pores do sol do mundo. O fim da tarde na cidade é deslumbrante. O céu fica vermelho e vai ganhando contrastes laranjas e bordôs, que criam um efeito de ficção científica que nos remete para o futuro, nos voos das espaçonaves interplanetárias.
Também nos joga para o passado, quando enormes dinossauros vagavam sobre a terra e as erupções vulcânicas tingiam o céu de cores maravilhosas, pelo menos nas representações dos filmes modernos.
Mas se o por do sol da capital é deslumbrante o ano inteiro, tem épocas que ele fica mais deslumbrante ainda e este momento é o outono, maio e junho, quando a intensidade das cores fica mais forte e os contrastes mais nítidos, como que para reproduzir o instante pós Big-Bang e nos mostrar que, na imensa aventura do universo, somos menos do que um grão de areia perdido nos oito quilômetros da Enseada.
O por do sol é maravilhoso em qualquer ponto da cidade, mas em algumas regiões ele fica mais exposto, mais amplo e mais profundo. E aí nenhuma região é tão bonita como o fim de tarde na Cidade Universitária.
O por do sol atrás da USP é mágico. Uma imensa tela impressionista plasmada no céu, reproduzido o sonho que Deus arrancou de sua alma para criar o universo.
Os tons atingem picos que nenhuma tinta humana consegue chegar perto. A intensidade do vermelho contrasta com a azul profundo do céu e as riscas laranjas e bordôs explicam por que o ser humano criou a pintura abstrata.
Não há tempo, não há começo nem fim. O por do sol, em sua extrema intensidade, compreende toda a eternidade, ainda que a mostrando por um breve momento. Nele, vida e morte, começo e fim, explosão de energia e buracos negros se misturam e nos dão uma breve ideia do dia da criação.
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