Descarte nos supermercados
Houve o aumento brutal da quantidade de produtos que é descartada na boca dos caixas dos supermercados. Isso mesmo. A pessoa caminha entre as gôndolas, vai enchendo o carrinho e, quando chega na boca do caixa, descobre que não dá para pagar tudo que ela selecionou para levar para casa. Que a grana é curta e alguma coisa terá que ser devolvida ou deixada na esteira do caixa porque não dá para pagar.
A carestia está brava. Mais de quarenta milhões de pessoas estão em situação de vulnerabilidade para a fome. E não tem nada que indique que o quadro vai mudar muito depressa. O governo está com um pacote eleitoreiro que aumenta o auxílio família para seiscentos reis por mês, em princípio até o fim do ano, mas os candidatos sabem que no ano que vem não terá como baixar o valor. Ele veio para ficar.
É praticamente meio salário-mínimo, quantia maior do que milhões de brasileiros têm para passar um mês. É bem-vinda, claro que é bem-vinda, mas a solução do problema não é por aí. Isso não é tirar o cidadão da miséria, é fazer média para comprar o voto de quem não tem nada e por isso muito pouco é muita coisa.
A devolução dos produtos nos supermercados tem um lado ainda mais trágico. No começo da crise se devolvia o supérfluo, o que não era essencial, mas servia para fazer graça e alegrar a semana da família. O refrigerante, a cerveja, o biscoito de chocolate.
Agora, o quadro está mudando. O que está sendo deixado nos caixas são produtos básicos, leite, óleo de soja, fermento, sacos de arroz.
Quer dizer, está aumentando o número de pessoas que não conseguem levar para casa o mínimo para alimentar dignamente a família.
Como não são seiscentos reais que vão dar um jeito na carestia, é preciso entrar de sola no problema, que tem que ser rapidamente enfrentado.
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