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Quanto vale um teclado

[Crônica do dia 24 de outubro de 2000]

Uma das maiores invenções dos tempos modernos é sem dúvida nenhuma o teclado elétrico. Para tristeza dos fabricantes de órgãos, estas máquinas maravilhosas, reduzidas ao tamanho de um teclado de piano reduzido, são capazes de substituir uma orquestra inteira, permitindo que um único homem anime um baile melhor do que o da Ilha Fiscal, para não falar no som mágico das grandes igrejas do mundo, incluído aí o som do órgão do mosteiro de São Bento de São Paulo que não fica devendo nada para os melhores. Com jeito um bom teclado faz melhor, com a vantagem de que acabada a sessão, é embala-lo, pegá-lo pela alça e leva-lo para casa, onde pode continuar sendo usado, armado sobre seus pés dobráveis sem levar os vizinhos à loucura.

O sucesso dessas máquinas é tão grande que os seus fabricantes têm contratos com artistas conhecidos para divulgar suas marcas, no meio de uma batalha cerrada para ocupar espaço no mercado.

Pois você sabe quanto custa um teclado de primeira linha? Eu não tenho ideia. Já me falaram em até cinco mil reais, o que comparado com a economia de uma orquestra inteira é muito barato.

Só que um teclado, custando isso, pode custar muito menos do que isso. Qual o preço do sorriso de 600 pessoas que não têm muitos motivos para sorrir?
Um teclado pode ser a chance de um momento de felicidade, em meio à dor e ao sofrimento, para mais de 600 pacientes internados na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Santa Casa tem um coral que nos finais de semana se apresenta para os pacientes internados, alguns em estado muito grave. Para que este coral fique completo falta um teclado elétrico que faça o fundo capaz de substituir com a música a dor dos homens pelo inefável dos anjos.

Será que cinco mil reais é caro diante do milagre de centenas de sorrisos impondo à dor e ao sofrimento algumas horas de paz?

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.