Os esquecidos
[Crônica do dia 21 de abril de 2010]
Ninguém é. Todo mundo está. A diferença é dramática e fica mais dramática ainda quando alguém que está, mas que imaginava que era, deixa de estar.
O grande jurista e poeta Ives Gandra da Silva Martins diz que inteligência não é mérito, é sorte. E que o mérito começa com o uso para o bem da inteligência que Deus nos deu. A regra é boa.
O problema é que o ser humano é complicado. Muito complicado. E nas suas complicações, traumas e fraquezas, invariavelmente, mete os pés pelas mãos, confunde as coisas e imagina que é, e que ser é eterno.
Se nem os deuses, ao longo da história, têm conseguido carimbar a eternidade, o que dizer de qualquer um de nós, simples mortais destinados a regressar ao pó.
A vida é dura e pega pesado. A regra não falha é só questão de tempo. Para alguns chega antes, para outros, mais tarde, mas chega sempre.
Aí quem esteve e sabe que só esteve saí de cena melhor do que os que achavam que eram e um belo dia descobrem que apenas estavam.
Mas realmente triste é o comportamento de gente que se descobre completamente esquecida, ainda em vida, depois de ter estado em alguma posição com certo destaque.
A solidão da fama passada é terrível, ainda mais quando cai sobre a pessoa num programa de televisão sem audiência, no qual ela é apenas figurante.
Ou nas centenas de livros que deveriam vender, mas não vendem e acabam encalhados nas prateleiras de um editor que fez a aposta errada.
É por isso que saber estar é bom e imaginar que é, diabólico.
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